sábado, 5 de junho de 2010

TEXTO SOBRE A ECONOMIA MUNDIAL E A ASCENÇÃO DA CHINA PUBLICADO EM 10/2008 NO DIARIO DE CANOAS

Economista orienta a voltar
olhos para os países asiáticos
INDÚSTRIA SETOR EM AÇÃO 21.10.2008 2
Empresa é destaque em
automação comercial
O momento econômico
atual é de
grande expectativa.
Alguns empresários
temem que a indústria canoense
- focada na área
de agronegócios, energia,
siderurgia e indústria pesada
no geral – sinta reflexos
da crise global. O
economista Gilberto Elói
Milani orienta os empresários
a prestar atenção
no mercado chinês.
“É preciso ficar atento
à economia chinesa
que, como se percebe,
não está sentindo tanto a
crise, pois sua economia
não estava lastreada no
mercado financeiro e sim
no produtivo, onde quase
não há perdas”, afirma.
Hoje, de acordo com o
economista, os chineses
concentram mais de 50%
da produção industrial do
mundo, com PIB de US$
2,7 trilhões, reservas de
US$ 1 trilhão, dívida de
US$ 400 bilhões e risco
zero no mercado financeiro,
área imobiliária e
derivativos que não representam
13 % da dívida.
Exatamente o contrário
dos países ocidentais,
que trocaram a produção
pelo mercado financeiro
de papéis, lastreados em
outros papéis, sem valor
ligado a negócios produtivos.
ESTRATÉGIAS - A dica
de Milani é que o empresariado
brasileiro deve
focar o mercado asiático,
em geral, e o africano
(basicamente produzindo
matérias-primas de interesse
dos asiáticos), bem
como produzir alimentos
e abrir mercados junto à
África em agronegócios
(tratores, implementos,
tecnologia de produção
agrícola, entre outros).
O economista destaca
que aquele empresário
que focar seus negócios
na Ásia e na África
irá sobreviver no longo
prazo, independente do
rumo que a crise tomar.
“Para isso, funcionários
terão que ser treinados
para que conheçam a cultura,
língua, o modo de
vida das referidas nações,
além de conhecer sua atividade
e seus processos
produtivos, sua capacidade
de produzir e suas carências”,
diz. A idéia é focar
a produção brasileira
naquilo que eles não têm
ou somos mais capazes de
produzir. Conforme Milani,
será necessário que
as empresas façam investimentos
pesados na área
de pessoal e treinamento,
e elaborem estratégias
junto a estes mercados.
Gilberto Elói Milani é economista,
contabilista, especialista
em Finanças pela Fundação
Getúlio Vargas/SP, mestre
engenheiro de produção (UFRGS),
tem título de extensão em
Negócios pela Università di
Perugia (Itália) e é professor
da Ulbra, consultor de empresas
(9182.0391).

TEXTO QUE CITA MILANI REALIZADO PELA PROF. ECONOMIA PUCRS - MERCADO CALÇADISTA

A cade idao c oSuurl:e idreos-ecmalpçaednihsota e n iom Bpraacstiol se d nao c Rriisoe *Grande
Silvia Horst Campos** Economista da FEE e Professora da FACE-PUCRS

Produção, emprego e
mercado interno
A cadeia coureiro-calçadista é estratégica para o
Brasil, tanto em termos da produção e do mercado interno
como do comércio externo e da geração de empregos.
Possui um PIB setorial de R$ 50 bilhões, com um
mercado interno que movimenta cerca de R$ 35 bilhões
em vendas de calçados, couros, artefatos1 e componentes,
tendo exportado US$ 5 bilhões em 2008 (Couromoda...,
2009). Reúne mais de 15.000 empresas e
absorve em torno de 700.000 trabalhadores, 300.000
apenas na fabricação de calçados.
O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores
de couro e calçados no mundo, com um expressivo
mercado interno que absorve 75% da produção nacional
de 808 milhões de pares, a qual se desenvolve em
diversos pólos produtores regionais, com diferentes
condições econômicas, históricas e culturais. O consumo
per capita no Brasil é pouco superior a três pares/ano,
deixando um espaço enorme para o crescimento dessa
indústria no País, se o objetivo for alcançar os seis pares/
/ano dos países desenvolvidos (Abicalçados, 2009).
A produção física de calçados e artigos de couro
em nível nacional, conforme informação do IBGE, vem
apresentando uma trajetória declinante há vários anos,
havendo atingido níveis preocupantes a partir de 2005,
quando a valorização do real, juntamente com o
acirramento da concorrência internacional, notadamente
com os calçados chineses, impingiram severas perdas
de mercados ao produto nacional. Cabe ressaltar,
também, a influência negativa da crescente entrada de
produtos importados que concorrem diretamente com o
calçado brasileiro no mercado doméstico.
Com base no Gráfico 1, contudo, pode-se observar
que a contração da produção na indústria gaúcha de
calçados e artigos de couro foi maior do que na sua
congênere nacional. Além disso, em termos espaciais,
verifica-se que estados como o Ceará e o Rio Grande do
Sul têm apresentado uma evolução divergente
O fato de produzir preponderantemente calçados
femininos de couro com qualidade reconhecida — em
grande parte, comercializados no mercado internacional
— deixa essa indústria mais sensível às flutuações
da taxa cambial. A diminuição do patamar produtivo
decorrente da redução no volume de pares embarcados
foi, contudo, parcialmente compensada pela agregação
de valor que resultou na fabricação de um calçado mais
sofisticado, comercializado no mercado internacional com
um preço médio mais elevado, que propiciou ganhos no
valor das vendas externas. Em outros estados brasileiros,
como o Ceará, é expressiva a parcela da produção
destinada ao mercado interno, mas as exportações em
pares vem crescendo significativamente, a ponto de esse
estado ser o maior exportador brasileiro em volume de
pares embarcados na atualidade.
Conforme dados da RAIS-MTE para 2007,
apresentados na Tabela 1, a indústria de couros é
constituída por 834 curtumes e 2.757 empresas
fabricantes de artigos de couro, de vários portes e
diferentes níveis tecnológicos, com predominância de
micro e pequenas unidades. Na indústria de calçados,
por sua vez, o número de fabricantes é muito maior (9.031
empresas), 79% atuando na fabricação de calçados de
couro. O Rio Grande do Sul é o principal estado produtor,
respondendo por um terço dos estabelecimentos
formalmente constituídos.
A representatividade da mão de obra ocupada é
igualmente elevada, uma vez que empregava 380,9 mil
trabalhadores formais em 2007. O maior contingente
estava empregado na atividade de fabricação de calçados
de couro (209,7 mil trabalhadores equivalendo a 55% do
total), evidenciando a importância desse tipo de calçado
na produção da indústria calçadista e dentro da cadeia
produtiva como um todo.
Em termos espaciais, os dados da Tabela 1
permitem identificar uma forte concentração regional, pois
cinco estados — Ceará, São Paulo, Rio Grande do Sul,
Minas Gerais e Bahia — respondem por 82,5% do total
de estabelecimentos formalmente constituídos e por
85,2% do total de empregos formais existentes em 2007.
São Paulo e Rio Grande do Sul são os principais, com
61,4% dos estabelecimentos e 54,1% dos empregados,
mas Ceará e Bahia vêm conquistando espaço.
As diferenças entre os estados também podem ser
identificadas em termos do tamanho médio dos
estabelecimentos. No Ceará e na Bahia predominam
grandes empresas com respectivamente 150 e 100
empregados, em média. Nos demais estados e no total
do Brasil, os dados mostram o predomínio de unidades
de menor porte, entre 16 e 33 empregados, em média.
As discrepâncias entre os estados são maiores no âmbito
da fabricação de calçados. Na comparação entre Rio
Grande do Sul e São Paulo, os maiores estados
produtores, observa-se que o tamanho médio dos
estabelecimentos é maior no estado gaúcho, pela
presença forte de empresas de médio porte.
1 Bolsas, cintos, pastas, mochilas, valises, malas, etc.
A cadeia coureiro-calçadista...
Cabe ressaltar-se, contudo, que, no ano de 2008,
os impactos da crise financeira internacional contribuíram
para um encolhimento de 16,4 mil empregos nas
indústrias dessa cadeia produtiva, conforme informações
disponibilizadas pelo Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e
Emprego. Só no Rio Grande do Sul, foram 7,5 mil postos
de trabalho fechados. Dos estados selecionados, apenas
a Bahia apresentou crescimento no nível de emprego
nesse ano. O Gráfico 2 traz a evolução do número de
empregados formais das indústrias de couro e de
calçados de 2004 a 2008 nos principais estados
produtores.
O maior destaque é para o Rio Grande do Sul, que,
nesse período, perdeu 25% dos postos de trabalho na
indústria calçadista e 30% na de couro, o que significou
um encolhimento do emprego nessas indústrias no
Estado.2 Os empregos no Ceará, em Minas Gerais e na
Bahia oscilaram pouco nesse período, mas São Paulo
também apresentou decréscimos significativos.
Ainda com base no Gráfico 2, é possível observar-
-se uma queda maior na mão de obra ocupada na indústria
coureira, em 2008, nos principais estados produtores.
Ocorre que a diminuição da demanda mundial de couros
para estofamento provocou uma diminuição do seu preço
no mercado interno e, em decorrência, uma retração da
produção doméstica. No Rio Grande do Sul, houve
inclusive uma diminuição de 5% no número de
estabelecimentos vinculados a essa atividade.
A indústria de componentes para couros, calçados
e artefatos brasileira, por sua vez, é formada por 2.399
empresas de diferentes ramos da produção industrial,
sendo 45% delas localizadas no Rio Grande do Sul e
39% em São Paulo, conforme dados da Associação
Brasileira de Empresas de Componentes para Couros,
Calçados e Artefatos (Assintecal) referentes a 2008.3 As
unidades produtivas são preponderantemente de micro
(63%) e pequeno (28%) portes. Em 2002, empregavam
61.882 trabalhadores (Puffal; Tondolo, 2008). Trata-se de
um setor em expressiva expansão, pois o número de
empresas cresceu 65,8% entre 2004 e 2008.
O couro foi, durante muito tempo, a principal
matéria-prima utilizada na fabricação de calçados. Na
década de 80, cerca de 70% da produção de couros
brasileira era destinada para a indústria calçadista, uma
situação que vem alterando-se de modo substancial nos
últimos 10 anos. Hoje, estimativa do Centro das Indústrias
de Curtume do Brasil (CICB) aponta que apenas 25% do
couro são utilizados pelos calçadistas, sendo o restante
direcionado para a indústria automobilística e moveleira
(60%), artefatos, vestuário e outros produtos (15%)
(Correa; Rosa, 2007). Depois de atender à demanda da
indústria calçadista e da exportação direta de couros,
ainda sobram 3 a 4 milhões de couros sem comercializa
ção garantida, considerando um abate de 44 milhões
de cabeças de gado anuais.
Foi o desenvolvimento da indústria petroquímica que
acelerou a substituição do couro por materiais sintéticos
na fabricação do calçado. Mais leve, versátil e barata,
essa matéria-prima conquistou espaço, em termos
internacionais, a partir da década de 70. Ultimamente, a
produção ganhou novo impulso com a grande
disseminação do calçado esportivo, como o tênis, aliando
design a conforto e utilidade (Abicalçados, 2009).
Ambas as indústrias (couro e calçados) vêm atuando
no sentido de agregar valor ao produto final. No caso dos
curtumes, a agregação de valor acontece na fase de
acabamento do couro, depois de ultrapassados os
estágios wet blue e crust.4 Nos calçados, são os
investimentos em qualidade e desenvolvimento de
produto, estilo e design, aliados à contínua busca de
redução de custos, que têm permitido criar um diferencial
competitivo para a indústria nacional.
2 Uma comparação com a evolução do número de estabelecimentos
no Rio Grande do Sul, contudo, mostra que este apresentou
comportamentos divergentes, com base em informações
coletadas e divulgadas pela RAIS. Ao mesmo tempo em que o
número de empresas calçadistas cresceu em 1,0%, o número
de estabelecimentos na indústria coureira declinou 5,0%,
demonstrando um forte aumento de produtividade associado a
maiores investimentos em tecnologia e inovação poupadoras de
mão de obra.
3 Em virtude da grande variedade de produtos produzidos por
essa indústria, a Assintecal agrupa as empresas em quatro
segmentos principais, que são: (a) componentes estruturais dos
calçados (palmilhas de montagem e suas partes, complementos
para solados, solas, saltos e tacos: complementos e
componentes para cabedal, tais como biqueiras, couraças e
contrafortes); (b) componentes funcionais (produtos químicos
4 O couro wet blue corresponde à primeira etapa do curtimento,
quando a peça recebe um banho de cromo, que lhe confere um
tom azulado e molhado. O crust é o couro semiacabado e utiliza
o wet blue como matéria-prima. O couro acabado corresponde à
última etapa da transformação das peles em couros, com maior
agregação de valor, emprega grandes contingentes de mão de
obra e tem aplicação direta nas indústrias de calçados, vestuário,
moveleira e automotiva (Campos, 2006).
para calçados e para couros, tais como adesivos, ceras, tintas
e vernizes); (c) componentes de suporte (escovas, formas e
navalhas, ferramentaria, embalagens e materiais auxiliares de
processo); (d) insumos metálicos e químicos, outros insumos
(Lorenzon, 2007).
Silvia Horst Campos
Os demais segmentos produtivos da cadeia
coureiro-calçadista também têm apostado na inovação.
Nos últimos anos, as empresas do segmento de
componentes para couro, calçados e artefatos
intensificaram suas ações voltadas à inovação, ao design
e à sustentabilidade, buscando soluções criativas como
forma de se diferenciar no mercado, agregando valor
(qualidade e tecnologia) aos seus produtos. A importância
da inovação tecnológica nesse segmento tem sido
ressaltada na literatura, com destaque para as empresas
da indústria química, da produção de polímeros, plásticos
e borrachas e metalúrgicas. Cabe ressaltar-se aqui o
duplo papel desempenhado por essa indústria nos últimos
anos: ao mesmo tempo em que abastece os fabricantes
de calçados com os acessórios e componentes
necessários para a produção dos vários modelos e linhas
de produtos desenvolvidos pelos designers, a indústria
de componentes também investe em desenvolvimento de
produto e de processo, transferindo inovação para a
indústria calçadista.
De um modo geral, o segmento vem respondendo
positivamente ao desafio de acompanhar o desenvolvimento
tecnológico internacional, demonstrando
capacidade inovadora e agilidade diante das mudanças
nos processos industriais, decorrentes de novas matérias-
-primas e de tendências ligadas à moda. Tem-se, por
exemplo, o desenvolvimento de várias tecnologias de
aplicação na indústria de curtimento, especialmente na
fase de acabamento, e, também, de materiais alternativos
ao couro, como é o caso dos solados (Humann, 2004).
Na atualidade, predomina a exploração de novos materiais
para o desenvolvimento de produtos que tenham apelo
ecológico e de conforto. Nesse sentido, uma gama enorme
de produtos naturais (sementes, fibras naturais, etc.) vem
sendo incorporada ao produto final, construindo a imagem
de um produto original, vinculado ao local. Os bons
resultados da participação em importantes feiras
internacionais tem comprovado a eficácia “[...] de um
trabalho que alia inovação e design à sustentabilidade
ecológica” (Referências..., 2009).
Em suma, existe um relativo consenso no âmbito
das indústrias calçadista e de componentes de que a
preservação e o fortalecimento da sua competitividade
internacional frente à concorrência chinesa exigirão cada
vez mais investimentos em inovação em busca de estilo
e design próprios, capazes de conferir um potencial
diferenciador ao produto nacional. Trata-se, assim, de
“[...] apresentar pesados investimentos em materiais
diferenciados que não possam ser produzidos pelos
chineses, e empregar a criatividade quanto a matérias-
-primas alternativas, soluções para uso no sentido de
conforto, beleza e qualidade do produto nacional” (Milani,
2008).
Completando a análise dos principais segmentos
da cadeia coureiro-calçadista, destaca-se a fabricação
de máquinas e equipamentos para curtimento e
acabamento de couros e fabricação de calçados. No
Brasil, principalmente em São Paulo e no Rio Grande do
Sul, a produção de calçados organiza-se na forma de
clusters bem-estruturados, e a fabricação de máquinas
e equipamentos para a referida cadeia faz parte dos
mesmos. Inicialmente produzindo apenas para o mercado
interno, predominantemente em micro e pequenas
empresas, esse segmento também tem conseguido
colocar uma parte de sua produção no mercado externo,
através da presença crescente nas feiras internacionais.
As máquinas são de diversos tipos, especializando-se
em determinadas etapas do processo de produção, de
sorte que há grupos de empresas especializadas na
produção de determinadas famílias de máquinas. Além
disso, existe um elevado nível de diversificação dos
produtos, o que se reflete no baixo aproveitamento de
economias de escala (Ruffoni, 2004.

ALEM DE OUTRAS NO ARTIGO PUCRS

1O. BRASILEIRO A PREVER EM 2006 A CRISE FINANCEIRA AMERICANA DE 2008 NO MERCADO IMOBILIÁRIO CFE. TEXTO PUBLICADO NO SITE TERRA. INVERTIA TEMA MERCADO

Opine
TEMAS DE OPINIÃO
Opine sobre o mercado financeiro após crise na China
26. Econ. Gilberto Milani
[econgilberto@yahoo.com.br]
Porto Alegre
6/15/2007 2:16:11 PM
Título:
A GRANDE BOLHA QUE VEM SE FORMANDO NO MUNDO
Opinião:
aINDA NÃO FOI COM A CRISE DA bOLSA DA CHINA, que se desfez a grande bolha mundial dos negócios, porém pela teoria dos ciclos, bem como pelo volume de negócios realizados e expectativas futuras de lucros fazem os negócios seguirem uma trajetória em crescimento no curto prazo, porém não devemos esquecer que a china começou sentir os efeitos dessa bolha, bem como o mercado mobiliário americano também, isto ainda é o início, haverá no futuro próximo grande crash, principalmente nos paises subdesenvolvidos.
26/45

TEXTO PUBLICADO PELA CNI- FIESP A ECONOMIA BRASILEIRA SITE REVISTA INDUSTRIA BRASILEIRA FEVEREIRO 2009 NR. 09 Ano 9

Passo em falso
O setor de calçados, um dos que mais emprega no País, sente os efeitos
da queda na demanda global. Só para os Estados Unidos, as encomendas
caíram 23,2% no ano passado

As exportações brasileiras no ano passado
cresceram 23,2% em relação a 2007, atingindo o valor
recorde de US$ 197,9 bilhões. As importações, porém,
aumentaram muito mais, 43,6%, resultando em uma
preocupante queda de 38,2% no saldo da balança comercial.
O mais perigoso, porém, é que até mesmo o
número positivo das exportações esconde o quadro
destoante de alguns setores, em que a crise econômica
global já se fez sentir. É o caso da indústria calçadista
brasileira, a terceira maior produtora mundial e a quinta
maior exportadora, que teve queda de 1,6% nas vendas
externas. Quando se observa o número de pares
de sapatos exportados, o tombo foi bem maior: 6,4%.
Houve redução especialmente drástica nos pedidos
dos maiores compradores, como os Estados Unidos,
que ficaram no ano passado com 37,7 milhões de pares,
uma retração de 23,2% em relação a 2007.
A indústria calçadista brasileira reúne aproximadamente
7.800 fábricas em 15 polos industriais espalhados
por 12 estados da Federação, empregando
diretamente 303 mil pessoas. Em dezembro, segundo
o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(Caged), do governo federal, foram demitidos
28 mil trabalhadores. Na cadeia produtiva, há re-
Passo em falso
O setor de calçados, um dos que mais emprega no País, sente os efeitos
da queda na demanda global. Só para os Estados Unidos, as encomendas
caíram 23,2% no ano passado
Por Ca rlos Haag
Divulgação
www.cni.org.br I ndústri a Brasileira 39
COMÉR CIO EXTERIOR
flexos tanto pela queda na venda de insumos para
indústria quanto nas exportações para produtores de
outros países. A indústria de couros teve diminuição
de 11% no faturamento com as exportações no ano
passado até novembro.
Os fabricantes de calçados estão acostumados a
enfrentar adversidades externas, em um setor altamente
competitivo. Desde 2004, quando foram exportados
212 milhões de pares de calçados, o volume
de exportações vinha caindo, mas o faturamento não:
em 2007, foi maior do que nos quatro anos anteriores.
O fechamento dos números do ano passado, porém,
trouxe uma surpresa: inverteu o sinal, e a variação do
volume exportado continuou a cair em comparação
com o ano anterior. “A situação atual expõe a uma
prova de fogo a competência do setor, que alcançou
competitividade ao longo de décadas”, afirma o presidente
da Associação Brasileira das Indústrias de
Calçados (Abicalçados), Milton Cardoso. O diretorexecutivo
do Centro das Indústrias de Curtumes
do Brasil (CICB ), Hélio Mendes, compartilha das
preocupações de Cardoso. “É importante que neste
momento de crise o governo olhe de forma mais
cuidadosa para o setor, que exigiu muito trabalho e
investimento para ocupar um espaço significativo no
mercado mundial.”
Apesar dos números tão ruins, há razão para
otimismo, na avaliação de empresários. “A retração
dos mercados mundiais e instabilidade do câmbio
afetaram os negócios ainda mais do que o câmbio
desfavorável havia afetado. Mas passado esse primeiro
momento de turbulência, os preços mais competitivos,
em função do câmbio mais realista, deixarão
os negócios crescer. Já ampliamos muito os destinos
de nossas exportações para voltar atrás: se em 2002
exportávamos para 115 países, hoje são 150”, analisa
Cardoso. A possibilidade de incremento nas vendas
está referendada no fato de que o exigente mercado
europeu se transformou no maior comprador de calçados
nacionais no que se refere ao faturamento. O
preço médio de cada produto exportado aumentou
5,1%, absorvendo 34,3% do total das exportações, e,
entre janeiro e outubro, entraram no país US$ 551,2
milhões provenientes das vendas de calçados para a
Europa. Além disso, mesmo com a crise, os Estados
Unidos continuam o nosso principal comprador em
volume, tendo adquirido mais de 37,7 milhões de pares
vendidos no ano passado.
Entre as várias ações preventivas recentes feitas
pela indústria está o recém-assinado convênio com
a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e
Investimentos (Apex), com US$ 53,2 milhões para
intensificar atividades de inteligência comercial dentro
do Programa Setorial Integrado de Promoção às
Exportações de Calçados. Dentre as ações previstas
no projeto, a mais ousada é o aumento da participação
em mercados escolhidos a partir de estudos feitos pelo
setor: Alemanha, China, Colômbia, Emirados Árabes,
Espanha, Estados Unidos, França, Hong Kong,
Itália e Reino Unido. “Para os próximos dois anos,
esses países terão sido responsáveis pela obtenção de
US$ 1,4 bilhão, um acréscimo de 12,45% em comparação
ao ano passado, quando foi exportado US$ 1,3
bilhão”, anuncia Cardoso. Um detalhe fundamental
nesse plano é o contra-ataque brasileiro ao crescimento
da importação de calçados da China, hoje o
principal concorrente direto da indústria nacional. As
importações, no ano passado, fecharam em cerca de
40 milhões de pares, oito vezes mais do que em 2003.
“Essa ameaça aos empregos e ao desenvolvimento da
indústria está mais presente do que nunca”, alerta
Cardoso. Hoje, de cada dez calçados exportados em
todo o mundo, oito são chineses.
Para especialistas em comércio exterior, além de
ficar atento à prática de comércio desleal, é preciso capacitar-
se cada vez mais para enfrentar a competição.
“O Brasil foi no passado uma China para o mercado
Exportações de calçados brasileiros
0
50
100
150
200
250
1,5
1,6
1,7
1,8
1,9
2
2003 2004 2005 2006 2007 2008
milhões de pares US$ bilhões
Fonte : Abical çados
40 Indústria Brasileira f evereiro 2009
produtor europeu, em especial Itália e Espanha, quando
tínhamos os mesmos diferenciais dos chineses na
capacidade de produção, competitividade, baixo custo
de mão-de-obra, entre outros fatores”, nota o economista
Gilberto Elói Milani, da Fundação Getúlio
Vargas (FGV ). “Passamos, neste momento, por algo
parecido, pois enfrentamos os mesmos problemas que
os europeus enfrentaram conosco no passado. A solução
é apresentar investimentos em materiais que não
possam ser produzidos pelos chineses e empregar a
criatividade em matérias-primas alternativas, soluções
para uso no sentido do conforto, beleza e qualidade
do produto nacional.”
Dados recém-divulgados pela Abicalçados demonstram
que os calçados com parte superior em
material sintético lideraram, em 2008, o volume de
embarques, com 99,9 milhões de pares vendidos, um
aumento de 16,2% em relação a 2007, deixando em
segundo lugar os calçados de couro, com 54,5 milhões
de pares exportados, uma queda de 23,7% no seu volume,
o que explica a queda do faturamento nos polos
do Rio Grande do Sul, historicamente campeões, hoje
superados pelos polos do Ceará, responsável pelo envio
de 57,3 milhões de pares, 34% do total. O setor
de couros conseguiu se adaptar à queda na demanda
da indústria calçadista, e passou a se focar em novos
mercados. Hoje, 60% do couro bovino produzido no
Brasil são destinados ao estofamento de móveis e de
veículos, segmentos que veem no couro um diferencial
para a valorização dos produtos.
A parceria com a Apex no setor calçadista tem
por objetivo neutralizar a ameaça das importações da
China. O país também vem aumentando as suas importações
mundiais, um crescimento de 118,5% entre
2001 e 2005. Mas o Brasil tem pouca participação
nisso: em 2007 vendeu apenas 71 mil pares. Hong
Kong é um grande mercado potencial, por ser porta
de entrada de produtos na Ásia. Em 2007, aumentou
em 7,06% a sua importação de calçados. “Nós,
no entanto, só exportamos 413 mil pares para eles”,
nota Cardoso. A intenção da parceria com a Apex é
justamente atacar de forma direta esses dois mercados,
e outros dois igualmente importantes: os Emirados
Árabes, onde houve crescimento de consumo (e para
onde o Brasil exportou um milhão de pares), e Estados
Unidos, onde a indústria brasileira pretende se
concentrar na exportação de calçados de maior valor
agregado, pois a exportação de produtos mais baratos
diminuiu sensivelmente, em função da concorrência
chinesa. Também está na lista de prioridades a intensificação
da produção de calçados para uso militar.
“Houve grande êxito na venda desses produtos nas
guerras no Iraque e Afeganistão, com grande potencial
futuro”, observa Milani, da FGV .
CONSU MID ORA
em Pequim:
China é a maior
competidora
do Brasil, mas
também mercado
potencial
Michael Reynolds/epa/Corbis
www.cni.org.br I ndústri a Brasileira 41
COMÉR CIO EXTERIOR
Raízes na imigração alemã
A indústria calçadista começou a crescer a partir de 1824 no Rio
Grande do Sul com a chegada de imigrantes alemães, em especial
na região do Vale do Rio dos Sinos, ganhando força com a Guerra
do Paraguai. Após o fim do conflito, foi preciso conquistar com
competência os mercados internos e se considerou investir em
industrialização, o que levou, em 1888, à criação da primeira fábrica
de calçados do país no Vale dos Sinos. Há 40 anos, os compradores
norte-americanos foram apresentados às empresas desse cluster
embrionário durante a Feira Nacional de Calçados e começaram as
primeiras vendas externas de calçados nacionais. “O ano de 1969
pode ser considerado o início da conquista e ascensão dos calçados
made in Brazil”, afirma Mario Cordeiro Carvalho, da Associação de
Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Os empresários “sapateiros” focaram suas ações no fortalecimento
dos encadeamentos econômicos com a fábrica. “Primeiro,
aumentaram o tamanho das fábricas e a capacidade das linhas de
montagem, para assegurar escala e custos decrescentes. Depois,
acabaram criando indústrias específicas de produção de insumos
necessários à sua produção no entorno da região. Chegaram
mesmo a trazer couro curtido da Argentina para pressionar os
fornecedores brasileiros a melhorar preços e a qualidade dos
produtos nacionais”, conta Carvalho.
Apesar de a concentração de empresas de grande porte estar
localizada no Rio Grande do Sul, a produção nacional de calçados
vem gradativamente sendo distribuída ao longo do Brasil em outros
polos, localizados nas regiões Sudeste e Nordeste, com destaque
para o interior do estado de São Paulo (Jaú, Franca e Birigui) e em
estados como Ceará, atual campeão de vendas, e Bahia. Há também
um aumento notável na produção de estados como Santa Catarina (São
João Batista) e em Minas Gerais (região da Nova Serrana). Um caminho
encontrado pelo setor para disputar os mercados é o investimento
em tecnologia que permitiu aos empresários calçadistas, em 2007,
aumentar o faturamento em exportações, a despeito da queda do dólar.
Entre as iniciativas da indústria calçadista para aprimorar a produção
nacional está a abertura, no início deste ano, do primeiro laboratório
de controle de substâncias nocivas ao consumidor, em Novo
Hamburgo, Rio Grande do Sul. Foi investido R$ 1,3 milhão para que
o novo centro possa detectar a concentração de elementos como
níquel, chumbo, cromo e outros materias dos calçados. “Conforto
e segurança são essenciais no setor, já que não se admite a venda
de calçados que possam machucar o pé das pessoas”, nota Aluísio
Ávila, do Instituto Brasileiro de Tecnologia do Calçado. Outro bom
exemplo é a manta de titânio nos calçados, fruto de três anos de
pesquisa, que transforma o calor do corpo em energia infravermelha
para melhorar a circulação do sangue. “A diversificação da produção
é um fator competitivo importante que permite ao Brasil produzir
todos os tipos de calçados necessários”, observa Cardoso.
Divulgação
A reação se dará não apenas no setor dos produtos
finalizados. A indústria do couro é uma das mais
antigas do Brasil, com origens no século 18, mas foi
nas duas últimas duas décadas que o setor firmou-se
como um dos grandes players na economia globalizada.
O plano estratégico do setor inclui a articulação
para que seja criado um “G4 do couro”, reunindo
os quatro países responsáveis por 60% da produção
mundial: China, Brasil, Índia e Estados Unidos.
“Queremos, com isso, dar outro formato à indústria
criando um padrão que leve o couro a ser negociado
em bolsas, a exemplo de outros produtos como café
ou soja. O número de empregos e divisas que o couro
gera mostra que ele não é mais um subproduto da
carne e necessita ser pensado de forma mais estratégica”,
analisa Mendes, da CICB .
A ameaça chinesa, porém, continua mais forte
do que nunca. “Há um mito de que a crise chinesa
vai beneficiar o Brasil. Eles enfrentam dificuldades,
sim, mas isso aumenta os riscos para nós. A
retração das encomendas de calçados chineses por
parte da União Européia gera uma quantidade de
excedentes que tende a ser despejado em mercados
que ainda não são abastecidos pela produção local,
como o Brasil. Os ‘estocados’ podem acabar aqui”,
alerta Cardoso.

O SETOR CALÇADISTA E A CRISE - TEXTO PUBLICADO PELO SINDICATO CALADISTA DE FRANCA SÃO PAULO

tEXTO PUBLICADO EM 10/2008 - ABICALÇADOS - ASSISTENCAL - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDUSTRIAS CALÇADISTAS


"O setor calçadista e a crise"
Enviado por: noticias


"Nestes tempos, em que a crise econômico-financeira mundial espelha a irracionalidade dos países ocidentais quanto a ciranda financeira em detrimento da economia real (produtiva), é muito importante entendermos o cenário em que nossas empresas estão inseridas, bem como apresentar estratégias futuras para suas sobrevivências, uma vez que as mesmas são nossa fonte de riqueza, geração de renda, trabalho e cidadania.

O setor calçadista brasileiro vem passando, nas últimas décadas, por um momento bastante singular no que se refere à manufatura, geração de trabalho e renda, uma vez que estamos sofrendo, como todos sabem, a concorrência de uma país também em desenvolvimento, a China.

O mesmo apresenta alguns diferenciais que tornam muito difícil a concorrência no que tange ao fator custo da mão-de-obra, matérias-primas de produção, capacidade de financiamento e empreendedorismo.

Além disso, possui um mercado consumidor tanto interno quanto externo muito grande, o que o torna bastante agressivo e talvez, diria, imbatível do ponto de vista da produção em larga escala para consumidores de media e baixa renda. Saliento também a capacidade de empreendimento e financiamento tanto por parte do Estado como da iniciativa privada.

Nós, no Brasil, temos alguns exemplos do passado em que fomos uma China para o Mercado produtor Europeu (especialmente Itália e Espanha), quando tínhamos os mesmos diferenciais que a China no que se refere à capacidade de produção, competitividade, baixo custo de mão-de-obra, capacidade estatal de financiamento e também da iniciativa privada. O que aqueles países fizeram para enfrentar o concorrente latino-americano agressivo (o Brasil) foi basicamente fechar as portas das empresas de pequeno porte por falta de competitividade e fazer com que as de médio e grande porte investissem em qualidade de produto e design, além de aliar-se a marcas de roupa como produtos complementares.

Somando-se a isso a abertura de mercado interno, investimento em novos materiais, domínio, não mais da produção, e sim os serviços agregados ao produto, o que os tornou ainda importantes no setor, bastante competitivos e agressivos principalmente no mercado classe A e B de produtos. Tal estratégia os torna vanguardistas no que se refere à moda em calçados na Europa.

Penso que o Brasil passa por algo parecido, nestes últimos tempos, pois, de forma geral, enfrentamos os mesmos problemas que os europeus enfrentaram conosco no passado. Portanto, vejo, como solução para o setor calçadista brasileiro, apresentar pesados investimentos em materiais diferenciados que não possam ser produzidos pelos chineses, e empregar a criatividade quanto a matérias-primas alternativas, soluções para uso no sentido de conforto, beleza e qualidade do produto nacional.

Partindo de minhas caminhadas pela Europa, observei que lá a moda da população em geral é muito própria, não seguindo uma tendência massificada nem passageira, diria conservadora. A partir disso, também apresento ao setor a idéia de buscar dominar a moda e design de produtos para o mercado interno e da América Latina, para as classes A e B da população, pois os chineses não parecem conseguir atuar com eficácia neste terreno.

Também a partir da observação da indústria, universidade e capacidade de produção dos chineses, vejo que os mesmos têm problemas histórico-culturais quanto à produção deste tipo de produto, uma vez que não possuem tradição de uso, nem de produção, nem de criatividade, necessitando de profissionais brasileiros (gestores de produção ) e italianos (design) para poder ensiná-los.

Dessa forma, também sugiro que o setor apresente a possibilidade de não só exportar calçados neste momento difícil, pois é quase impossível competir com eles e sim apresentar a possibilidade de exportação serviços (educativos e gerenciais da produção), setores em que temos maior eficiência e conhecimento prático-teórico.

Gostaria ainda de acrescentar um outro setor em que temos grande possibilidade de crescimento e ampliação da capacidade de produção é a produção de calçados para uso militar,como atesta o grande êxito desde a segunda grande Guerra Mundial e, agora, na guerra do Iraque e Afeganistão por parte dos soldados americanos ao usarem botas e uniformes fabricados em parte pelo Brasil, além dos soldados britânicos usarem coturnos brasileiros durante a Guerra da Bósnia, vide site do Ministério da Defesa do Brasil".

Por Gilberto Elói Milani, economista, especialista em Finanças Empresariais pela Fundação Getúlio Vargas. É contabilista, mestre em Engenharia de Produção e tem título de extensão em negócios pela Università di Perugia, na Italia.

domingo, 16 de maio de 2010

A NOVA ORDEM MUNDIAL - TEXTO PUBLICADO NO JORNAL EXCLUSIVO 2008

Nova ordem mundial
Publicada em 23/10/2008 - Diego Rosinha/Jornal Exclusivo

Com a crise nos mercados, economia chinesa se favorece

• Dólar preocupa o setor
• Calçadistas apreensivos quanto às exportações
• Comércio em alerta
• Vendas em moeda local são alternativa ao dólar
• Crise é vista com cautela por calçadistas
O momento de colapso no capitalismo internacional vai abrir espaço para uma nova espécie de imperialismo econômico: o chinês. A opinião é do economista e professor da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), Gilberto Elói Milani. Mas antes que o empresário brasileiro pule de cadeira ele é ainda mais enfático: quem quiser crescer pode se unir ao 'novo' gigante mundial. Segundo ele, a hegemonia norte-americana e do liberalismo econômico, ou o neoliberalismo dos tempos atuais, tendem a afundar junto com as maiores potências econômicas ocidentais.

"A hegemonia norte-americana, que começou após a segunda guerra mundial com o tratado de Bretton Woods - acordo dos países vencedores de que o dólar seria a moeda de reserva e padrão para transações internacionais, já começou a dar sinais de decadência na década de 1990, quando se jogavam dólares no mercado mundial sem previsão de retorno, pois isso acarretaria uma inflação sem prescedentes. Era uma espécie de brincadeira com o dinheiro. Para se ter uma idéia, hoje os EUA têm mais de USS 500 trilhões em papel podre, sem validade alguma e um déficit público de mais de USS 14 trilhões. Para piorar o contexto, a Europa se uniu e fez sua própria moeda, o euro, o que veio a enfraquecer ainda mais a hegemonia econômica estadunidense'', explica o professor, lembrando que dos 12 países mais ricos do mundo, sete estão no Velho Continente.

A tese de Milani parte do pressuposto que o capitalismo financeiro internacional formou uma 'bolha' que começou a dar sinais de esgotamento no início da década. ``O dinheiro era muito barato, com taxas de juros baixas, mas para isso os financistas tiveram que investir em mercados de alto risco. Os bancos, de uma maneira geral, sabiam do risco de inadimplência que corriam disponibilizando esse dinheiro'', analisa.

O crescimento baseado no capital especulativo também é questionado pelo especialista. Segundo ele, apesar de em 2008 o Brasil ter comemorado o fim da dívida externa e uma reserva internacional de USS 220 bilhões, não foi observado que a dívida interna passou para USS 1,3 trilhões. "Ou seja, para cada USS 1 devido, temos somente USS 0,13 para saldá-la. Se os investidores estrangeiros, subitamente se sentirem inseguros e vulneráveis, devido a crise financeira internacional, e repatriarem esses recursos de volta, como ficaremos?'', questiona.

EXPECTATIVA - Para Milani, a crise norte-americana vai afetar o mundo inteiro e deve chegar com mais força no Brasil em "fevereiro ou março do próximo ano''. Conforme ele, atualmente 60% da produção de bens mundiais está concentrada na China, o que credencia o país com um PIB de USS 3 trilhões a ser a próxima grande potência mundial. O economista salienta que mesmo todo o esforço dos bancos centrais a crise não deve passar a curto e médio prazos.

"Esse investimento todo é paliativo. No Brasil, por exemplo, o Banco Central já liberou R$ 160 bilhões, sendo que só temos mais uma reserva de R$ 60 bi, o que é muito pouco para conter uma crise dessa proporção'', projeta. Segundo ele, a solução para o Brasil seria se aliar a China. "Lemos notícias quase que diariamente dos EUA e eles próprios já estão admitindo essa mudança de paradigma. Uma nova ordem mundial está surgindo e ela será regida pela China'', prevê o economista. Milani ressalta que, para se obter equilíbrio econômico, o Brasil deve investir em produtos que não podem ser fabricados no país asiático.

"Não adianta querer competir em produção. Quando não se pode vencer o inimigo a dica é unir-se a ele'', aconselha. Milani aponta também para uma mudança no papel do Estado na economia. De acordo com ele, a tendência desse processo é que o Estado volte a ter um papel mais forte na economia, formando um novo ciclo do capitalismo. ``Imagino que essa crise, assim como a crise financeira da década de 1930, dure de 20 a 30 anos. E nesse período é certo que o Estado vai adquirir um papel fundamental nas economias como já vem tendo injetando bilhões de dólares todos os dias'', opina.

No mercado coureiro-calçadista, o economista avalia que a indústria tem seguido o caminho correto, através do constante investimento em agregação de valor e novas tecnologias. "A Itália fez justamente isso quando o calçado brasileiro começou a lhe tomar mercados em níveis mundiais. Investiu em design e acabou se fortalecendo. O Brasil foi para a Itália o que a China representa para o Brasil hoje'', explica.