domingo, 16 de maio de 2010

A NOVA ORDEM MUNDIAL - TEXTO PUBLICADO NO JORNAL EXCLUSIVO 2008

Nova ordem mundial
Publicada em 23/10/2008 - Diego Rosinha/Jornal Exclusivo

Com a crise nos mercados, economia chinesa se favorece

• Dólar preocupa o setor
• Calçadistas apreensivos quanto às exportações
• Comércio em alerta
• Vendas em moeda local são alternativa ao dólar
• Crise é vista com cautela por calçadistas
O momento de colapso no capitalismo internacional vai abrir espaço para uma nova espécie de imperialismo econômico: o chinês. A opinião é do economista e professor da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), Gilberto Elói Milani. Mas antes que o empresário brasileiro pule de cadeira ele é ainda mais enfático: quem quiser crescer pode se unir ao 'novo' gigante mundial. Segundo ele, a hegemonia norte-americana e do liberalismo econômico, ou o neoliberalismo dos tempos atuais, tendem a afundar junto com as maiores potências econômicas ocidentais.

"A hegemonia norte-americana, que começou após a segunda guerra mundial com o tratado de Bretton Woods - acordo dos países vencedores de que o dólar seria a moeda de reserva e padrão para transações internacionais, já começou a dar sinais de decadência na década de 1990, quando se jogavam dólares no mercado mundial sem previsão de retorno, pois isso acarretaria uma inflação sem prescedentes. Era uma espécie de brincadeira com o dinheiro. Para se ter uma idéia, hoje os EUA têm mais de USS 500 trilhões em papel podre, sem validade alguma e um déficit público de mais de USS 14 trilhões. Para piorar o contexto, a Europa se uniu e fez sua própria moeda, o euro, o que veio a enfraquecer ainda mais a hegemonia econômica estadunidense'', explica o professor, lembrando que dos 12 países mais ricos do mundo, sete estão no Velho Continente.

A tese de Milani parte do pressuposto que o capitalismo financeiro internacional formou uma 'bolha' que começou a dar sinais de esgotamento no início da década. ``O dinheiro era muito barato, com taxas de juros baixas, mas para isso os financistas tiveram que investir em mercados de alto risco. Os bancos, de uma maneira geral, sabiam do risco de inadimplência que corriam disponibilizando esse dinheiro'', analisa.

O crescimento baseado no capital especulativo também é questionado pelo especialista. Segundo ele, apesar de em 2008 o Brasil ter comemorado o fim da dívida externa e uma reserva internacional de USS 220 bilhões, não foi observado que a dívida interna passou para USS 1,3 trilhões. "Ou seja, para cada USS 1 devido, temos somente USS 0,13 para saldá-la. Se os investidores estrangeiros, subitamente se sentirem inseguros e vulneráveis, devido a crise financeira internacional, e repatriarem esses recursos de volta, como ficaremos?'', questiona.

EXPECTATIVA - Para Milani, a crise norte-americana vai afetar o mundo inteiro e deve chegar com mais força no Brasil em "fevereiro ou março do próximo ano''. Conforme ele, atualmente 60% da produção de bens mundiais está concentrada na China, o que credencia o país com um PIB de USS 3 trilhões a ser a próxima grande potência mundial. O economista salienta que mesmo todo o esforço dos bancos centrais a crise não deve passar a curto e médio prazos.

"Esse investimento todo é paliativo. No Brasil, por exemplo, o Banco Central já liberou R$ 160 bilhões, sendo que só temos mais uma reserva de R$ 60 bi, o que é muito pouco para conter uma crise dessa proporção'', projeta. Segundo ele, a solução para o Brasil seria se aliar a China. "Lemos notícias quase que diariamente dos EUA e eles próprios já estão admitindo essa mudança de paradigma. Uma nova ordem mundial está surgindo e ela será regida pela China'', prevê o economista. Milani ressalta que, para se obter equilíbrio econômico, o Brasil deve investir em produtos que não podem ser fabricados no país asiático.

"Não adianta querer competir em produção. Quando não se pode vencer o inimigo a dica é unir-se a ele'', aconselha. Milani aponta também para uma mudança no papel do Estado na economia. De acordo com ele, a tendência desse processo é que o Estado volte a ter um papel mais forte na economia, formando um novo ciclo do capitalismo. ``Imagino que essa crise, assim como a crise financeira da década de 1930, dure de 20 a 30 anos. E nesse período é certo que o Estado vai adquirir um papel fundamental nas economias como já vem tendo injetando bilhões de dólares todos os dias'', opina.

No mercado coureiro-calçadista, o economista avalia que a indústria tem seguido o caminho correto, através do constante investimento em agregação de valor e novas tecnologias. "A Itália fez justamente isso quando o calçado brasileiro começou a lhe tomar mercados em níveis mundiais. Investiu em design e acabou se fortalecendo. O Brasil foi para a Itália o que a China representa para o Brasil hoje'', explica.