sábado, 5 de junho de 2010

O SETOR CALÇADISTA E A CRISE - TEXTO PUBLICADO PELO SINDICATO CALADISTA DE FRANCA SÃO PAULO

tEXTO PUBLICADO EM 10/2008 - ABICALÇADOS - ASSISTENCAL - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDUSTRIAS CALÇADISTAS


"O setor calçadista e a crise"
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"Nestes tempos, em que a crise econômico-financeira mundial espelha a irracionalidade dos países ocidentais quanto a ciranda financeira em detrimento da economia real (produtiva), é muito importante entendermos o cenário em que nossas empresas estão inseridas, bem como apresentar estratégias futuras para suas sobrevivências, uma vez que as mesmas são nossa fonte de riqueza, geração de renda, trabalho e cidadania.

O setor calçadista brasileiro vem passando, nas últimas décadas, por um momento bastante singular no que se refere à manufatura, geração de trabalho e renda, uma vez que estamos sofrendo, como todos sabem, a concorrência de uma país também em desenvolvimento, a China.

O mesmo apresenta alguns diferenciais que tornam muito difícil a concorrência no que tange ao fator custo da mão-de-obra, matérias-primas de produção, capacidade de financiamento e empreendedorismo.

Além disso, possui um mercado consumidor tanto interno quanto externo muito grande, o que o torna bastante agressivo e talvez, diria, imbatível do ponto de vista da produção em larga escala para consumidores de media e baixa renda. Saliento também a capacidade de empreendimento e financiamento tanto por parte do Estado como da iniciativa privada.

Nós, no Brasil, temos alguns exemplos do passado em que fomos uma China para o Mercado produtor Europeu (especialmente Itália e Espanha), quando tínhamos os mesmos diferenciais que a China no que se refere à capacidade de produção, competitividade, baixo custo de mão-de-obra, capacidade estatal de financiamento e também da iniciativa privada. O que aqueles países fizeram para enfrentar o concorrente latino-americano agressivo (o Brasil) foi basicamente fechar as portas das empresas de pequeno porte por falta de competitividade e fazer com que as de médio e grande porte investissem em qualidade de produto e design, além de aliar-se a marcas de roupa como produtos complementares.

Somando-se a isso a abertura de mercado interno, investimento em novos materiais, domínio, não mais da produção, e sim os serviços agregados ao produto, o que os tornou ainda importantes no setor, bastante competitivos e agressivos principalmente no mercado classe A e B de produtos. Tal estratégia os torna vanguardistas no que se refere à moda em calçados na Europa.

Penso que o Brasil passa por algo parecido, nestes últimos tempos, pois, de forma geral, enfrentamos os mesmos problemas que os europeus enfrentaram conosco no passado. Portanto, vejo, como solução para o setor calçadista brasileiro, apresentar pesados investimentos em materiais diferenciados que não possam ser produzidos pelos chineses, e empregar a criatividade quanto a matérias-primas alternativas, soluções para uso no sentido de conforto, beleza e qualidade do produto nacional.

Partindo de minhas caminhadas pela Europa, observei que lá a moda da população em geral é muito própria, não seguindo uma tendência massificada nem passageira, diria conservadora. A partir disso, também apresento ao setor a idéia de buscar dominar a moda e design de produtos para o mercado interno e da América Latina, para as classes A e B da população, pois os chineses não parecem conseguir atuar com eficácia neste terreno.

Também a partir da observação da indústria, universidade e capacidade de produção dos chineses, vejo que os mesmos têm problemas histórico-culturais quanto à produção deste tipo de produto, uma vez que não possuem tradição de uso, nem de produção, nem de criatividade, necessitando de profissionais brasileiros (gestores de produção ) e italianos (design) para poder ensiná-los.

Dessa forma, também sugiro que o setor apresente a possibilidade de não só exportar calçados neste momento difícil, pois é quase impossível competir com eles e sim apresentar a possibilidade de exportação serviços (educativos e gerenciais da produção), setores em que temos maior eficiência e conhecimento prático-teórico.

Gostaria ainda de acrescentar um outro setor em que temos grande possibilidade de crescimento e ampliação da capacidade de produção é a produção de calçados para uso militar,como atesta o grande êxito desde a segunda grande Guerra Mundial e, agora, na guerra do Iraque e Afeganistão por parte dos soldados americanos ao usarem botas e uniformes fabricados em parte pelo Brasil, além dos soldados britânicos usarem coturnos brasileiros durante a Guerra da Bósnia, vide site do Ministério da Defesa do Brasil".

Por Gilberto Elói Milani, economista, especialista em Finanças Empresariais pela Fundação Getúlio Vargas. É contabilista, mestre em Engenharia de Produção e tem título de extensão em negócios pela Università di Perugia, na Italia.

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