sábado, 5 de junho de 2010

TEXTO QUE CITA MILANI REALIZADO PELA PROF. ECONOMIA PUCRS - MERCADO CALÇADISTA

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Silvia Horst Campos** Economista da FEE e Professora da FACE-PUCRS

Produção, emprego e
mercado interno
A cadeia coureiro-calçadista é estratégica para o
Brasil, tanto em termos da produção e do mercado interno
como do comércio externo e da geração de empregos.
Possui um PIB setorial de R$ 50 bilhões, com um
mercado interno que movimenta cerca de R$ 35 bilhões
em vendas de calçados, couros, artefatos1 e componentes,
tendo exportado US$ 5 bilhões em 2008 (Couromoda...,
2009). Reúne mais de 15.000 empresas e
absorve em torno de 700.000 trabalhadores, 300.000
apenas na fabricação de calçados.
O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores
de couro e calçados no mundo, com um expressivo
mercado interno que absorve 75% da produção nacional
de 808 milhões de pares, a qual se desenvolve em
diversos pólos produtores regionais, com diferentes
condições econômicas, históricas e culturais. O consumo
per capita no Brasil é pouco superior a três pares/ano,
deixando um espaço enorme para o crescimento dessa
indústria no País, se o objetivo for alcançar os seis pares/
/ano dos países desenvolvidos (Abicalçados, 2009).
A produção física de calçados e artigos de couro
em nível nacional, conforme informação do IBGE, vem
apresentando uma trajetória declinante há vários anos,
havendo atingido níveis preocupantes a partir de 2005,
quando a valorização do real, juntamente com o
acirramento da concorrência internacional, notadamente
com os calçados chineses, impingiram severas perdas
de mercados ao produto nacional. Cabe ressaltar,
também, a influência negativa da crescente entrada de
produtos importados que concorrem diretamente com o
calçado brasileiro no mercado doméstico.
Com base no Gráfico 1, contudo, pode-se observar
que a contração da produção na indústria gaúcha de
calçados e artigos de couro foi maior do que na sua
congênere nacional. Além disso, em termos espaciais,
verifica-se que estados como o Ceará e o Rio Grande do
Sul têm apresentado uma evolução divergente
O fato de produzir preponderantemente calçados
femininos de couro com qualidade reconhecida — em
grande parte, comercializados no mercado internacional
— deixa essa indústria mais sensível às flutuações
da taxa cambial. A diminuição do patamar produtivo
decorrente da redução no volume de pares embarcados
foi, contudo, parcialmente compensada pela agregação
de valor que resultou na fabricação de um calçado mais
sofisticado, comercializado no mercado internacional com
um preço médio mais elevado, que propiciou ganhos no
valor das vendas externas. Em outros estados brasileiros,
como o Ceará, é expressiva a parcela da produção
destinada ao mercado interno, mas as exportações em
pares vem crescendo significativamente, a ponto de esse
estado ser o maior exportador brasileiro em volume de
pares embarcados na atualidade.
Conforme dados da RAIS-MTE para 2007,
apresentados na Tabela 1, a indústria de couros é
constituída por 834 curtumes e 2.757 empresas
fabricantes de artigos de couro, de vários portes e
diferentes níveis tecnológicos, com predominância de
micro e pequenas unidades. Na indústria de calçados,
por sua vez, o número de fabricantes é muito maior (9.031
empresas), 79% atuando na fabricação de calçados de
couro. O Rio Grande do Sul é o principal estado produtor,
respondendo por um terço dos estabelecimentos
formalmente constituídos.
A representatividade da mão de obra ocupada é
igualmente elevada, uma vez que empregava 380,9 mil
trabalhadores formais em 2007. O maior contingente
estava empregado na atividade de fabricação de calçados
de couro (209,7 mil trabalhadores equivalendo a 55% do
total), evidenciando a importância desse tipo de calçado
na produção da indústria calçadista e dentro da cadeia
produtiva como um todo.
Em termos espaciais, os dados da Tabela 1
permitem identificar uma forte concentração regional, pois
cinco estados — Ceará, São Paulo, Rio Grande do Sul,
Minas Gerais e Bahia — respondem por 82,5% do total
de estabelecimentos formalmente constituídos e por
85,2% do total de empregos formais existentes em 2007.
São Paulo e Rio Grande do Sul são os principais, com
61,4% dos estabelecimentos e 54,1% dos empregados,
mas Ceará e Bahia vêm conquistando espaço.
As diferenças entre os estados também podem ser
identificadas em termos do tamanho médio dos
estabelecimentos. No Ceará e na Bahia predominam
grandes empresas com respectivamente 150 e 100
empregados, em média. Nos demais estados e no total
do Brasil, os dados mostram o predomínio de unidades
de menor porte, entre 16 e 33 empregados, em média.
As discrepâncias entre os estados são maiores no âmbito
da fabricação de calçados. Na comparação entre Rio
Grande do Sul e São Paulo, os maiores estados
produtores, observa-se que o tamanho médio dos
estabelecimentos é maior no estado gaúcho, pela
presença forte de empresas de médio porte.
1 Bolsas, cintos, pastas, mochilas, valises, malas, etc.
A cadeia coureiro-calçadista...
Cabe ressaltar-se, contudo, que, no ano de 2008,
os impactos da crise financeira internacional contribuíram
para um encolhimento de 16,4 mil empregos nas
indústrias dessa cadeia produtiva, conforme informações
disponibilizadas pelo Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e
Emprego. Só no Rio Grande do Sul, foram 7,5 mil postos
de trabalho fechados. Dos estados selecionados, apenas
a Bahia apresentou crescimento no nível de emprego
nesse ano. O Gráfico 2 traz a evolução do número de
empregados formais das indústrias de couro e de
calçados de 2004 a 2008 nos principais estados
produtores.
O maior destaque é para o Rio Grande do Sul, que,
nesse período, perdeu 25% dos postos de trabalho na
indústria calçadista e 30% na de couro, o que significou
um encolhimento do emprego nessas indústrias no
Estado.2 Os empregos no Ceará, em Minas Gerais e na
Bahia oscilaram pouco nesse período, mas São Paulo
também apresentou decréscimos significativos.
Ainda com base no Gráfico 2, é possível observar-
-se uma queda maior na mão de obra ocupada na indústria
coureira, em 2008, nos principais estados produtores.
Ocorre que a diminuição da demanda mundial de couros
para estofamento provocou uma diminuição do seu preço
no mercado interno e, em decorrência, uma retração da
produção doméstica. No Rio Grande do Sul, houve
inclusive uma diminuição de 5% no número de
estabelecimentos vinculados a essa atividade.
A indústria de componentes para couros, calçados
e artefatos brasileira, por sua vez, é formada por 2.399
empresas de diferentes ramos da produção industrial,
sendo 45% delas localizadas no Rio Grande do Sul e
39% em São Paulo, conforme dados da Associação
Brasileira de Empresas de Componentes para Couros,
Calçados e Artefatos (Assintecal) referentes a 2008.3 As
unidades produtivas são preponderantemente de micro
(63%) e pequeno (28%) portes. Em 2002, empregavam
61.882 trabalhadores (Puffal; Tondolo, 2008). Trata-se de
um setor em expressiva expansão, pois o número de
empresas cresceu 65,8% entre 2004 e 2008.
O couro foi, durante muito tempo, a principal
matéria-prima utilizada na fabricação de calçados. Na
década de 80, cerca de 70% da produção de couros
brasileira era destinada para a indústria calçadista, uma
situação que vem alterando-se de modo substancial nos
últimos 10 anos. Hoje, estimativa do Centro das Indústrias
de Curtume do Brasil (CICB) aponta que apenas 25% do
couro são utilizados pelos calçadistas, sendo o restante
direcionado para a indústria automobilística e moveleira
(60%), artefatos, vestuário e outros produtos (15%)
(Correa; Rosa, 2007). Depois de atender à demanda da
indústria calçadista e da exportação direta de couros,
ainda sobram 3 a 4 milhões de couros sem comercializa
ção garantida, considerando um abate de 44 milhões
de cabeças de gado anuais.
Foi o desenvolvimento da indústria petroquímica que
acelerou a substituição do couro por materiais sintéticos
na fabricação do calçado. Mais leve, versátil e barata,
essa matéria-prima conquistou espaço, em termos
internacionais, a partir da década de 70. Ultimamente, a
produção ganhou novo impulso com a grande
disseminação do calçado esportivo, como o tênis, aliando
design a conforto e utilidade (Abicalçados, 2009).
Ambas as indústrias (couro e calçados) vêm atuando
no sentido de agregar valor ao produto final. No caso dos
curtumes, a agregação de valor acontece na fase de
acabamento do couro, depois de ultrapassados os
estágios wet blue e crust.4 Nos calçados, são os
investimentos em qualidade e desenvolvimento de
produto, estilo e design, aliados à contínua busca de
redução de custos, que têm permitido criar um diferencial
competitivo para a indústria nacional.
2 Uma comparação com a evolução do número de estabelecimentos
no Rio Grande do Sul, contudo, mostra que este apresentou
comportamentos divergentes, com base em informações
coletadas e divulgadas pela RAIS. Ao mesmo tempo em que o
número de empresas calçadistas cresceu em 1,0%, o número
de estabelecimentos na indústria coureira declinou 5,0%,
demonstrando um forte aumento de produtividade associado a
maiores investimentos em tecnologia e inovação poupadoras de
mão de obra.
3 Em virtude da grande variedade de produtos produzidos por
essa indústria, a Assintecal agrupa as empresas em quatro
segmentos principais, que são: (a) componentes estruturais dos
calçados (palmilhas de montagem e suas partes, complementos
para solados, solas, saltos e tacos: complementos e
componentes para cabedal, tais como biqueiras, couraças e
contrafortes); (b) componentes funcionais (produtos químicos
4 O couro wet blue corresponde à primeira etapa do curtimento,
quando a peça recebe um banho de cromo, que lhe confere um
tom azulado e molhado. O crust é o couro semiacabado e utiliza
o wet blue como matéria-prima. O couro acabado corresponde à
última etapa da transformação das peles em couros, com maior
agregação de valor, emprega grandes contingentes de mão de
obra e tem aplicação direta nas indústrias de calçados, vestuário,
moveleira e automotiva (Campos, 2006).
para calçados e para couros, tais como adesivos, ceras, tintas
e vernizes); (c) componentes de suporte (escovas, formas e
navalhas, ferramentaria, embalagens e materiais auxiliares de
processo); (d) insumos metálicos e químicos, outros insumos
(Lorenzon, 2007).
Silvia Horst Campos
Os demais segmentos produtivos da cadeia
coureiro-calçadista também têm apostado na inovação.
Nos últimos anos, as empresas do segmento de
componentes para couro, calçados e artefatos
intensificaram suas ações voltadas à inovação, ao design
e à sustentabilidade, buscando soluções criativas como
forma de se diferenciar no mercado, agregando valor
(qualidade e tecnologia) aos seus produtos. A importância
da inovação tecnológica nesse segmento tem sido
ressaltada na literatura, com destaque para as empresas
da indústria química, da produção de polímeros, plásticos
e borrachas e metalúrgicas. Cabe ressaltar-se aqui o
duplo papel desempenhado por essa indústria nos últimos
anos: ao mesmo tempo em que abastece os fabricantes
de calçados com os acessórios e componentes
necessários para a produção dos vários modelos e linhas
de produtos desenvolvidos pelos designers, a indústria
de componentes também investe em desenvolvimento de
produto e de processo, transferindo inovação para a
indústria calçadista.
De um modo geral, o segmento vem respondendo
positivamente ao desafio de acompanhar o desenvolvimento
tecnológico internacional, demonstrando
capacidade inovadora e agilidade diante das mudanças
nos processos industriais, decorrentes de novas matérias-
-primas e de tendências ligadas à moda. Tem-se, por
exemplo, o desenvolvimento de várias tecnologias de
aplicação na indústria de curtimento, especialmente na
fase de acabamento, e, também, de materiais alternativos
ao couro, como é o caso dos solados (Humann, 2004).
Na atualidade, predomina a exploração de novos materiais
para o desenvolvimento de produtos que tenham apelo
ecológico e de conforto. Nesse sentido, uma gama enorme
de produtos naturais (sementes, fibras naturais, etc.) vem
sendo incorporada ao produto final, construindo a imagem
de um produto original, vinculado ao local. Os bons
resultados da participação em importantes feiras
internacionais tem comprovado a eficácia “[...] de um
trabalho que alia inovação e design à sustentabilidade
ecológica” (Referências..., 2009).
Em suma, existe um relativo consenso no âmbito
das indústrias calçadista e de componentes de que a
preservação e o fortalecimento da sua competitividade
internacional frente à concorrência chinesa exigirão cada
vez mais investimentos em inovação em busca de estilo
e design próprios, capazes de conferir um potencial
diferenciador ao produto nacional. Trata-se, assim, de
“[...] apresentar pesados investimentos em materiais
diferenciados que não possam ser produzidos pelos
chineses, e empregar a criatividade quanto a matérias-
-primas alternativas, soluções para uso no sentido de
conforto, beleza e qualidade do produto nacional” (Milani,
2008).
Completando a análise dos principais segmentos
da cadeia coureiro-calçadista, destaca-se a fabricação
de máquinas e equipamentos para curtimento e
acabamento de couros e fabricação de calçados. No
Brasil, principalmente em São Paulo e no Rio Grande do
Sul, a produção de calçados organiza-se na forma de
clusters bem-estruturados, e a fabricação de máquinas
e equipamentos para a referida cadeia faz parte dos
mesmos. Inicialmente produzindo apenas para o mercado
interno, predominantemente em micro e pequenas
empresas, esse segmento também tem conseguido
colocar uma parte de sua produção no mercado externo,
através da presença crescente nas feiras internacionais.
As máquinas são de diversos tipos, especializando-se
em determinadas etapas do processo de produção, de
sorte que há grupos de empresas especializadas na
produção de determinadas famílias de máquinas. Além
disso, existe um elevado nível de diversificação dos
produtos, o que se reflete no baixo aproveitamento de
economias de escala (Ruffoni, 2004.

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